Símbolos Celtas - 3ª parte
Templo de Avalon - Caer Siddi : Símbolos & Mitos
Publicada por Rowena em 19/11/2010
Os símbolos sempre exerceram um enorme fascínio sob o nosso subconsciente, revelando mistérios guardados na alma e no coração, por vezes, adormecidos pelas brumas do tempo e que nem sempre conseguimos explicar com simples palavras.
A maioria dos símbolos indo-europeus como a roda, as espirais e suas variantes, conhecidas como os nomes de triskelion, triskle, triskele, tríscele ou threefold, reconhecidamente, são representações solares que aparecem em muitas culturas antigas, esculpidas em rochas ou metais.

"O Sol foi representado pelo símbolo da roda. A força solar se manifesta como uma divindade antropomórfica que, no entanto, manteve o seu motivo da roda original para representar o Sol se movendo pelo céu. O espírito do Sol capaz de criar e destruir a vida." Referência do livro Animals in Celtic Life and Myth da Dra. Miranda Jane Aldhouse Green.

Alguns desses símbolos remontam há mais de 3000 a.C. e podem ser visto em monumentos pré-históricos e em sítios arqueológicos como em Newgrange, no Condado de Meath na Irlanda.

A Cruz Solar

A cruz solar ou a roda solar dentro de um círculo foi considerada como um símbolo sagrado que representava o Sol desde os tempos pré-cristãos. Os antigos viam o tempo como a roda, um círculo sem começo e nem fim.

O círculo e a cruz são símbolos universais de antigas culturas do mundo. Para os celtas o círculo significa o infinito e a roda solar, ao se estender para os lados, simboliza os Quatro Grandes Festivais: Samhain, Imbolc, Beltane e Lughnasadh.


No folclore irlandês a Cruz Solar é associada à Brighid, conhecida também como "Cruz de Brighid". Na Irlanda é comum confeccioná-la em palha de trigo ou junco. Este antigo costume é derivado de uma cerimônia pré-cristã, relacionada com a preparação das sementes na primavera.

A cruz e outros símbolos indo-europeus, assim como os "nós celtas" (entrelaçamentos), podem ser encontrados em peças de uso pessoal e até mesmo em armas de guerra, possivelmente com o propósito de se obter boa sorte, proteção e vitória.

Conforme os mitos, os celtas acreditavam que o centro da roda era o local onde o céu e a terra se encontram, ou seja, o lugar onde a alma alcançaria a iluminação... A eterna conexão entre os mundos!

"Imagens dos deuses na Gália podem ser classificadas por meio de seus símbolos, o malho (martelo de forja de cabo longo com cabeça de metal para bater no ferro) e a taça (símbolo da fartura), o martelo, a roda, a cornucópia e o torque usado por Cernunnos. Outros símbolos ocorrem em imagens, altares, monumentos e moedas, mas sem qualquer texto antigo para interpretar esses diferentes símbolos, todas as explicações são possíveis conjecturas." A Religião dos Antigos Celtas - J.A. Macculloch.

Animais Sagrados Celtas

A cada conto, mito ou lenda, descobrirmos como a simbologia animal é muito forte entre os povos celtas. Os animais representam partes inconscientes de um poder mágico que nos revela qualidades sobrenaturais, possibilitando a comunicação entre os mundos. Os celtas, como animistas, acreditavam que todos os aspectos do mundo natural eram dotados de espíritos e entidades divinas, com as quais todos os seres humanos poderiam estabelecer contato, até mesmo de forma totêmica.

No conto de "Culhwch e Olwen" há várias passagens que nos permitem observar como os animais míticos são consultados e, ao mesmo tempo, como eles carregam em si qualidades protetoras e amigáveis, atuando como emissários dos Deuses que, em certas ocasiões, podem se transformar em animais.

Os cães, por exemplo, citados no conto de "Oisín e Niamh", geralmente, estão associados à proteção, à caça e às provas sobrenaturais. Oisín relata o seu espanto ao perceber que os animais do Outro Mundo se aproximavam dele com naturalidade, demonstrando a estreita relação entre os animais, os homens e os Deuses. O cão também é associado à CuChulainn.

A integração entre os mundos está presente na figura do cavalo branco que simboliza o transporte para Tir na nÓg. Os cavalos têm um valor inestimável para os celtas, seja na guerra ou como um meio de locomoção para o Outro Mundo.

Tanto os animais domésticos como os selvagens, estão ligados à fertilidade, à vitalidade, à força, ao movimento e ao crescimento, fornecendo condições necessárias à subsistência de toda a tribo através da sua carne, peles e ossos. Representam uma forte conexão entre a terra e os céus, ligados a vários Deuses, promovendo a busca de segredos e de sabedoria ancestral. Cada animal possui um atributo específico; suas características são associadas a algum tipo de habilidade e dignos de veneração através de um ritual ou uma cerimônia religiosa.

As aves estão sob os domínios do céu e são percebidas como um elo entre os vivos e os espíritos ancestrais. Elas podem tanto ser o mensageiro como a própria mensagem, carregando em si um teor mágico, profético ou divinatório.

O javali e os porcos representam coragem, bravura, proteção e riqueza.

Os peixes, especialmente o salmão, estão associados à sabedoria e ao conhecimento. Diz a lenda que o salmão adquiriu esse conhecimento ao comer nove avelãs que caíram no poço da sabedoria de nove árvores, que ficavam ao redor da fonte sagrada e a primeira pessoa que comesse sua carne fresca, ganharia todo esse conhecimento. Foi assim que Fionn Mac Cumhaill, pai de Oisín, recebeu seu conhecimento, após comer o Salmão do Conhecimento, nos contos do Ciclo Feniano.

O veado é um animal reverenciado e perseguido ao mesmo tempo, considerado como emissário divino ou como Deuses transformados em animais, a exemplo de Cernunnos, o Senhor dos animais, da natureza e da abundância, retratado no Caldeirão de Gundestrup, antigo artefato de prata, ricamente decorado em alto relevo, em estilo celta e trácio encontrado na península dinamarquesa.


O Caldeirão de Gundestrup, datado do século 1 a.C., pertence ao final do período de La Tène. Ele foi encontrado em 1891 em um pântano perto da aldeia de Gundestrup, na Jutlândia – Dinamarca, e está alojado no Museu Nacional de Copenhague.

Além da arte, há uma infinidade de símbolos e animais descritos nos contos e nos mitos celtas que nos levam a uma profunda ligação com a natureza, descritos empiricamente na sua iconografia, que reforçam o respeito entre o mundo natural e o sobrenatural, bem como a conscientização da sua sacralidade mitológica.

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Referências bibliográficas:
BELLINGHAM, David. Introdução à Mitologia Céltica. Lisboa: Ed. Estampa, 1999.
GREEN, Miranda Jane Aldhouse. Celtic Myths. London: University of Texas Press, 1995.
___________. Exploring the World of the Druids. London: Thames and Hudson, 1997.
MARKALE, Jean. A Grande Epopéia dos Celtas. SP: Ed. Ésquilo, 1994.
MACCULLOCH, John Arnott. The Religion of the Ancient Celts. Edinburgh: T. & T. CLARK, 1911.
MAY, Pedro Pablo. Os Mitos Celtas. São Paulo: Ed. Angra, 2002.
PLACE, Robin. Os Celtas. São Paulo: Ed. Melhoramentos, 1989.

Rowena A. Senėwėen ®
Pesquisadora da Cultura Celta e do Druidismo.

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