O Mito de uma deusa-rainha chamada Macha |
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Enviado em 24/09/2010 (3193 leituras) |
"(...) Em um passado remoto, cuja beleza é transmitida por gerações e gerações que atravessam o ciclo dos tempos, viveu na Irlanda setentrional Crunniuc Mac Agnomain, um rico senhor de terras, pai de quatro filhos desolado pela morte da esposa. A vida, para ele, havia perdido muito do sentido, do colorido, e - sobretudo para um celta - da poesia. Com o vazio ocupando o lugar do coração pulsátil da alma enamorada de outrora, Crunniuc deixou à míngua suas terras e sua morada: parte do gado definhou e morreu, quase toda a plantação secou e quedou estéril e o antigo lar do casal passou a abrigar apenas uma fantasmagórica sombra do que foi, em algum longínquo momento, o espelho da luz e do amor que embalava o jovem casal. Em um final de tarde - quando o Sol acena um adeus descomprometido - Crunniuc, sentado em frente à sua casa, observou a aproximação da figura de uma formosa mulher, despontando no horizonte e estampando os céus com suas voluptuosas curvas. O agricultor já não conseguia mais discernir se a luz que vinha por trás da mulher era um feixe reticente do astro-Rei, ou se era o maravilhoso cabelo vermelho que adornava, em cachos, a cintura da maravilhosa figura: não importava, porque, ao final, sentia em seu peito – ora, quem diria! Enamorado outra vez! - o retumbante pulsar da paixão. A exuberante mulher silenciosamente se aproximou de Crunniuc, selando a comunicação com o vazio das palavras: a ternura e o sentimento eram, ali, naquele momento, a linguagem entre eles. Ela adentrou o lar e, numa familiaridade fora do comum, imediatamente começou a colocar tudo na ordem em que se encontrava antes, quando ali ainda habitava uma alma feminina. Com muita calma, paciência e humildade, a mulher dirigiu-se até o canto da cozinha, pegou a vassoura que ali se prostrava coberta pelo pó da falta de uso – e começou a limpar o local. Varreu, varreu, varreu e, de tanto varrer, baniu todo o passado que insistia em assombrar a alma solitária de Crunniuc. Depois de tudo limpo, brilhante e revigorado, a bela ruiva acendeu o coração da casa e preparou o mais suculento jantar nunca antes degustado na Terra de Ulster. Crunniuc se fartava, ainda sem entender direito o que estava acontecendo. Satisfeito após o banquete de rei, Crunniuc deixou-se conduzir pela mulher até o quarto. Ele se deitou na cama e a mulher, após dar uma volta completa em torno da cama, selou, ao final, com Crunniuc, o encontro sagrado da deusa com o mortal. Crunniuc prosperou como nunca... Os campos verdejavam ao som da melodia harmoniosa que a mulher entoava em seus cantos ancestrais. O gado, outrora magro e estéril, agora reproduzia o que a bela ruiva trouxera àquele homem: o esplendor da fecundidade, presente na barriga proeminente de cada animal das terras de Crunniuc. O império de sombras e trevas, enfim, cedeu espaço à luminosidade que cingia a mulher e tudo que ela tocava. A roda do ano girou na espiral do tempo de Crunniuc e, com isso, a felicidade se estabeleceu em cada pedaço de chão naquela morada entre-mundos. Ele nunca indagou da formosa mulher sua origem, bem como jamais questionou o que ela fazia ali. Apenas amou. Amou e confiou naquela silenciosa mulher, depositando ali seu nobre coração. Com isso, foi feliz, fez-se feliz, sentiu-se feliz e, coroando a felicidade, eis que a formosa mulher dos cabelos cor-de-fogo trouxe a Lua para seu ventre, brindando Crunniuc com a alegria de, dali a nove ciclos de lunação, ser pai." Mas essa linda história não termina aqui. Se terminasse, não seria celta! Quer saber mais sobre Crunniuc e Macha? “Ensaios anárquicos sobre o Sagrado e o Feminino”. À venda no site Sagrados Segredos da Terra. Por Audrey Donelle Errin Pesquisadora do Sagrado Feminino, dentro do foco celtíbero. Citação: "Conectada aos mistérios da ancestralidade da terra." Sagrados Segredos da Terra www.sagradosegredosdaterra.blogspot.com.br Para ler os artigos de Audrey Donelle Errin, clique aqui. |
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