Os Celtas
As primeiras referências que temos dos celtas encontram-se na literatura grega, por volta de 500 a.C., onde habitavam uma vasta área geográfica, que incluía França e Espanha e que se estendia até ao Danúbio superior, na Europa Oriental. A datação arqueológica dos achados não só confirma sua história como também nos informa sobre o passado histórico dos celtas.
Existe uma cultura reconhecidamente pré-céltica em redor Danúbio superior do ano de 1000 a.C. Contudo arqueólogos defendem agora uma muito espalhada e gradual "celtização" de culturas que existiam já na Idade do Bronze na Europa Setentrional e Meridional; assim, a Bretanha céltica podia mesmo remontar a 1500 anos a.C., quando a cultura de Wessex possuía as características sociais heroicas em conformidade com os primitivos mitos célticos irlandeses.
Os celtas Hallstatt, europeus meridionais, começaram cedo a explorar o ferro para ferramentas e armas e a expandir o seu território, primeiramente através da Europa, em direção à França e à Península Ibérica, como afirmam os primeiros historiadores gregos. [O arqueólogo Barry Cunliffe e o linguista Jon T. Koch, têm sugerido que as origens célticas aconteceram do Oeste para o Leste europeu durante a idade do bronze, por isso essa hipótese é conhecida como a Celtização do Ocidente.]
As tribos gálicas fizeram, então, incursões na Itália romana e etrusca, tendo sido quase bem sucedidos ao sitiar Roma, em 387 a.C., e acabando por se estabelecer no vale do Pó (considerado o maior rio italiano).
A cultura céltica deste período é conhecida como La Tène, nome de uma localidade na Suíça que apresenta características típicas da sociedade céltica do séc. V a.C. Muitos arqueólogos veem La Tène como a primeira cultura verdadeiramente céltica e, por certo, este é o povo que, a partir de então, é referido como os celtas pelos historiadores clássicos.
Uma expansão céltica posterior foi dirigida para o Sudeste da Europa, o Báltico e para a Turquia Ocidental. No século IV a.C. vemos Alexandre, o Grande, receber embaixadores célticos na sua corte na Macedônia, e ouvimos dizer que, em 279 a.C., tribos célticas tentaram saquear o santuário grego de Delfos, a que se opôs um miraculoso nevoeiro enviado pelo Deus Apolo.
Os gregos faziam distinção entre os celtas orientais, a que chamavam Galatoi (Gálatos originalmente da Gália), e os celtas da Europa Ocidental, a que chamavam Kelkoi. Os Romanos fizeram mais uma distinção, chamando Galli (Gauleses) aos celtas franceses e Belgae (originalmente do que é agora a Bélgica) e Britanni (Bretões) aos celtas britânicos.
A Gália céltica tornou-se a província romana da Gallia, após as conquistas de Júlio César, no século I a.C., e a Bretanha tornou-se a Britannia romana, no reinado do imperador Cláudio, no ano 43 da nossa era. Possivelmente, a Irlanda nunca tenha sido invadida por Roma e com isso, os seus mitos tendem a preservar a cultura céltica histórica com mais pormenores.
Júlio César e outros escritores dos primeiros séculos a.C. e d.C. deram-nos relatos precisos da cultura e dos costumes célticos vistos por não-celtas. A principal particularidade que emerge é a que se refere a pouca unidade entre eles: estavam divididos em tribos dirigidas por chefes que pareciam manter lutas constantes entre si. Todavia, devemos recordar que os romanos, provavelmente, encorajavam essas divisões tribais nativas para facilitar as suas próprias invasões, já que eram considerados um grupo de povos "bárbaros" muito disperso. [Na visão dos conquistadores].
Fonte bibliográfica:
Introdução à Mitologia Céltica de David Bellingham
Rowena A. Senėwėen ®
Todos os direitos reservados.
Os Celtas: Definições e Crenças
A palavra "celta" deriva de "keltoi" e que os gregos antigos usaram para denominar as tribos da Europa ao norte dos Alpes e da Europa Central que falavam línguas aparentadas. Assim como no passado, foi usada para definir as diferentes tribos e não apenas um povo específico geograficamente delimitado.
O termo "celta" foi utilizado a partir do século 18, por antiquários e historiadores. Portanto, para algo ser chamado de celta significa, que se desenvolveu e existiu numa cultura que fala a língua celta. As culturas celtas, ao contrário do que se diz, ainda existem. Atualmente, são considerados "celtas" os países onde uma porção da população fala algum idioma celta, fato que explica a designação dos "sete países celtas": Irlanda, Escócia, Ilha de Man, País de Gales, Cornualha, Bretanha e Galícia. Ao passo que, se o critério fosse a colonização ou local primitivo dos celtas, muito mais países entrariam nessa lista.
Temos dois principais troncos linguísticos da família celta: o Celta-P (goidélico) e o Celta-Q (britônico). O primeiro tronco é conhecido como Gaélico e encontra-se na Irlanda (Eriu), Escócia (Alba) e Ilha de Man (Mannin). E o segundo tronco é o Bretão encontrado em Gales (Cymru), Cornualha (Kernow) e Bretanha (Breizh). Outros estudiosos também os distinguem em Celta Continental e Celta Insular.
Mapa do deslocamento dos Celtas na Europa - do Oeste para o Leste: a área vermelha é a região sob influência dos povos pré-célticos. A área verde sugere uma possível extensão na cultura "Hallstatt" em torno de 800 a.C. e a área laranja indica a região onde nasceu a cultura "La Tène" por volta de 450 a.C. [Atualização baseada no curso "Os Celtas Históricos" ministrado por Lucas Macaw e André Soares, em 2018].
Muitas tradições têm permanecido vivas em áreas onde o idioma celta ainda é falado. Porém, na maioria dessas áreas, os antigos costumes têm sido revividos ao mesmo tempo em que a cultura vem sendo resgatada. Nas últimas décadas, os governos da Irlanda e a Escócia vem tentando criar áreas novas na língua gaélica. O País de Gales busca sua herança céltica há anos, e na Cornualha a língua nativa que estava extinta, renasceu.
A cosmovisão comum às comunidades que falam o idioma céltico, como o gaélico e o bretão, são as que oferecem maior correspondências nas crenças, na espiritualidade e nas tradições. Os grupos que se denominam celtas por motivos religiosos, políticos ou por qualquer outra questão isolada da cultura, não terão jamais compreensão do mundo celta. Por exemplo, um brasileiro que fala gaélico compartilha muito mais da cultura céltica, do que um nativo irlandês que não fala o gaélico irlandês (gaeilge).
A expressão "celta" seja em gaélico ou bretão não se refere à raça, pois não existe o chamado "sangue celta". Celta é uma classificação cultural que não tem a ver com genética ou pureza racial. Porém, uso da terminologia celta como forma política, alegando-se pureza racial é um "marketing" negativo que não tem nenhum embasamento histórico. O mesmo acontece no que diz respeito ao termo e à reivindicação da raça, considerada extremista e preconceituosa.
Nas últimas décadas as pessoas buscam restabelecer a ligação com suas raízes culturais e idioma nativo. A maioria das informações presentes na "espiritualidade celta" nem sempre são referentes às culturas celtas, mas a materiais modernos de mitos da idade média e do romantismo europeu. Chamar algo de "celta" quando não é parte da cultura celta é errôneo, do mesmo modo que selecionar um aspecto dessa e de qualquer outra cultura é dissociá-la do restante do contexto no qual ela é inserida.
A religiosidade celta permeia a cultura celta e ambas se completam em vários aspectos. Neste aspecto há uma enorme desconexão histórica e um completo desleixo com a memória mítico-religioso das comunidades celtas. As tradições célticas tornaram-se tão estrangeiras para seus descendentes quanto para outras pessoas de culturas diferentes. Até mesmo no Reino Unido, muitas pessoas não têm acesso ao conhecimento tradicional devido ao crescimento das cidades, o avanço da tecnologia e a transformação da sociedade.
No entrelaçamento entre a religião e a cultura, podemos afirmar que qualquer um que fale gaélico possivelmente saiba mais da religiosidade celta do que um irlandês, uma vez que a língua oferece a imersão dentro dessa cultura. Essa comparação é bem entendida se trazida para a nossa realidade, onde um inglês que fale a língua tupi saiba mais sobre a religião e a cultura indígena ou dos povos originários do que nós.
Toda religião celta pós-moderna que floresceu distante dos territórios célticos é questionada por esse bloqueio linguístico. Um elemento importante para segui-la é tentar se conectar a língua original. Porém, uma pessoa nascida em qualquer região do planeta pode ser considerada “celta” se dominar o idioma e sua cultura, uma vez que é sabido que foi a língua a maior semelhança entre as tribos celtas. Além disso, existe um compromisso transcendente e inerente ao aprendizado da língua com seus Deuses para tentar mantê-la viva. Como o idioma nativo da Irlanda, que guarda na sua memória os contos folclóricos, lendas, costumes, canções, orações e os mitos dos seus ancestrais.
Reflexões sobre os Celtas
Para compreender a mitologia céltica é preciso entender sobre os povos que deram origem a ela. A denominação genérica "celta" não define um povo ou raça, como costumamos entender essa palavra, mas de forma moderna se refere a um vasto número de tribos diferentes e espalhadas por diversos países europeus, que apesar da dispersão geográfica guardavam entre si fortes semelhanças de cunho social, religioso, mitológico e linguístico.
Na interpretação mítica, devido às diferenças regionais, existe o agravante desta cultura ser exclusivamente oral, uma vez que estes povos não deixaram nada por escrito, o que justifica a sua complexidade e variações. Tendo todos esses conceitos previamente compreendidos, pode-se pensar então em conhecer os Deuses celtas em sua vasta natureza, sem tentar compará-los com outros sistemas politeístas. Dentro dessa visão, os celtas eram considerados como grandes guerreiros que não temiam a morte, pois acreditavam na vida no Outro Mundo. Muitos desses guerreiros usavam um colar de torque ou "torc", provavelmente, um símbolo de status e poder dentro da comunidade.
Esculturas celtas tinham forma humana, especialmente as cabeças, consideradas a morada da alma. Um exemplo da arqueologia que reforça essa crença é o "culto à cabeça" no centro religioso histórico em Roquepertuse, no sul da França. Além de citações do historiador clássico Tito Lívio que menciona a tribo celta gaulesa boii ou boios, que degolavam a cabeça dos seus inimigos.
Portanto, ao contrário dos greco-romanos, não busque nos Deuses Celtas somente os arquétipos de "Divindades do Amor ou da Guerra", Eles possuem múltiplas personificações e virtudes. Sabemos que os Deuses têm várias funções e atributos diferentes, podendo ser de proteção e destruição ao mesmo tempo. No início, essas especificidades confundem um pouco o aprendizado, mas em contrapartida, proporcionaram um imenso conhecimento aos que persistirem no estudo e na pesquisa da cultura céltica e o seu grande legado. Que assim seja!
Fontes de pesquisa e estudo:
Várias referências sobre os Celtas: The Celts
Os Celtas: Da idade do bronze aos nossos dias – John Haywood
Rowena A. Senėwėen ®
Todos os direitos reservados.
(Texto atualizado em 08/04/2021)
"Três velas que iluminam a escuridão: Verdade,
Natureza e Conhecimento." Tríade irlandesa.
Direitos Autorais
A violação de direitos autorais é crime: Lei Federal n° 9.610, de 19.02.98. Todos os direitos reservados ao site Templo de Avalon e seus respectivos autores. Ao compartilhar um artigo, cite a fonte e o autor. Referências bibliográficas e endereços de sites consultados na pesquisa, clique aqui.